sábado, 19 de setembro de 2009

Entre quatro paredes

Nunca tive uma inspiração de verdade, daquelas magníficas que mata o dono de orgulho. Sempre quando preciso ter uma bela ideia, forço meu cérebro para pensar em algo incrível (e me matar de orgulho), mas falho e não me surpreendo. As melhores cartadas só aparecem quando menos esperamos. Minhas melhores (até então) inspirações, ocorreram e ocorrem sempre que possível, dentro daquele quarto e deitada naquela cama. Sinto no ar algo muito inspirador e cativante, me vejo de uma forma diferente. Aquele espelho me reconhece melhor do que eu mesma. Lá, eu sinto que posso, ao atravessar a porta, carrego comigo o entusiasmo necessário para seguir em frente e correr atrás dos meus sonhos. Porém, são raras as vezes que isso acontece, mas quando acontece, me marca da mesma forma que uma flecha acerta o alvo. Bem em cima e no meiozinho.
Agora, como assim? Preciso então estar sempre ali, sentada na beira da cama, te observando fazer as mesmas coisas de sempre, as mesmas coisas de cinco ou seis anos atrás, para poder sentir essa sensação? Preciso engolir todos os dias cinzas que aconteceram ali, debaixo daquele teto, tão aconchegante e ao mesmo tempo sombrio, com o intuito de esperar um olhar apaixonado? A resposta para essa imensa loucura e delírio, definitivamente é "não". Não, eu não preciso.
Tantas histórias, declarações, gargalhadas, lanches, abraços, conversas construtivas, conversas sem fundamento algum, todos esses momentos, registrados pelas quatro paredes, alicerçes da minha, da nossa memória. Há algo ali, que me prende como um laço de nó cego, olho e já me desmonto em lágrimas, medos, aflições e inseguranças. Como um ser humano pode se prender tanto assim? Como é possível, depositar tudo de si, se abrir sem vergonha de ser o que realmente é, para um cômodo? Pois foi por ele que me apaixonei, foi ali o local responsável por me fazer enxergar como uma menina inocente enxerga o seu primeiro suspiro.
Eu me gosto quando estou debaixo das cobertas empoeiradas. Me gosto quando ando descalça e depois sujo, implicantemente, os lençois. Eu sou assim, sou de fato o que gosto de ser ali dentro. Escrevo mil frases inúteis que depois são jogadas no lixo como algo inútil mesmo. Mas continuo escrevendo, há cinco ou seis anos, (se lembra?), eu faço isso. Continuo aparecendo sem avisar, não aviso por ter dificilmente conquistado uma intimidade tão grande, que me impede de alertar a minha presença. As portas já me conhecem e metaforicamente, se abrem ao me verem. Meu medo de casa grande no escuro e na madrugada, acabou. Minhas brigas familiares terrivelmente loucas, parecem mais ridículas do que nunca, quando sinto aquele clima gostoso de paz existente ali. Ali, ali, ali e aí.
Percebe? Me vejo feliz, descobri uma felicidade que faço questão até hoje, de guardá-la e preservá-la a sete chaves, mesmo que para isso eu tenha que sofrer e sentir meu peito se desmanchar a cada semana. Me enfiei num buraco criado por mim mesma. Um buraco de covardia, aonde só covardes se jogam sabendo da burrada que estão fazendo. Sempre quando termino um dia como eu terminei o de ontem, sexta-feira, ao amanhecer, tenho vergonha de me olhar. Tenho vergonha de dormir e relembrar minhas atitudes. Prefiro acreditar na existência de uma segunda "eu", uma detestável sósia, protagonista de um péssimo filme de mau gosto mexicano.
- Quem é ela? Quem sou eu?
O amor nos transforma em lindas e apaixonantes criaturas, mas também sempre que mal interpretado, ele é visto como uma droga viciante e fatal. Não tenho o direito de sentí-lo, respirá-lo...não possuo mais moral para falar: eu amo.
Não ainda. Não agora.

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